sexta-feira, 30 de março de 2012

Permissividade ou Limites em casa? O que você escolhe?


Ética e Limites na Adolescência


    Soubemos há pouco tempo desse caso que ocorreu em Curitiba-Pr. 
     Um adolescente, furioso com sua professora que lhe pediu uma lição de casa, postou uma série de xingamentos em seu Facebook.   
    Incontido pela fúria, o garoto não só publicou impropérios, como também disse que queria queimá-la. 
   Como o caso não é isolado, notamos cada dia mais, adolescentes em atitude de desafio, não observando as consequências de seu comportamento. No caso em destaque, o menino não só queria "queimar" simbolicamente a professora, por meio da mídia, como também queria "queimá-la" literalmente. 
   A atitude que o pai toma, recoloca as coisas em seu devido lugar. Ele pede que o menino se retrate e peça perdão à professora. Ele usa sua autoridade paterna para que a reparação possa ter seu lugar. 
   Quantos pais, entretanto, fazem vista grossa e deixam seus filhos à deriva, sem limites, ao sabor dos ventos, com liberdade para fazer o que bem entendem?
    Alguns pais acreditam que os filhos sabem o que querem; confiam que já são independentes o bastante para agirem em causa própria e, assim, vão deixando que vivam suas vidas com toda a liberdade. Só que alguns se esquecem de ensinar responsabilidade, até porque nunca estão por perto: seja em termos afetivos, seja em termos psíquicos ou físicos.
    Sim, alguns pais e mães agem diferente. Sabem que o adolescente ainda está em processo de amadurecimento e precisa de orientação.
   Impressionante também, tanto nesse adolescente quanto em outros, a opção pelo fogo para queimar e destruir tudo o que se opõe ao seu desejo de vingança.
   O que estamos acompanhando atualmente, são histórias em que adolescentes querem tudo no momento presente, no tempo presente, no agora, e o que desejam, muitas vezes não respeita o desejo, nem o limite do outro. É como se o presente fosse um
deus a ser cultuado, visto não existir um amanhã.
    É verdade, você tem razão. Alguns adultos também agem assim, são os chamados "adultescentes". Toda paciência para com estes.
    Sim, é possível que o adolescente tenha raiva e não goste da professora; mas o imprescindível é que ele aprenda - pouco a pouco - a sossegar um pouco. É preciso que ele aprenda a conter sua destrutividade. Tudo tem sua hora.
    Claro, nem todos os adolescentes são assim e, se lembrarmos de nossas próprias experiências do passado, vamos compreendê-los melhor e ver que - hoje - os jovens vivem em uma insegurança tão grande, diante de tantas escolhas possíveis, que essa angústia pode lançá-los de forma intensa no presente.
    Para piorar, muitos adolescentes fazem uso de drogas sintéticas em baladas, o que reforça ainda mais a experiência do presente, juntamente com a experiência da batida repetitiva de música,  que faz com que o agora fique ainda mais hiperpotencializado.
     Apesar de tudo, este pai soube aplicar as medidas de correção. Compreendeu a atitude predadora do filho como um S.O.S, um sinal de fumaça no ar, e soube interpretar esse sinal dentro do tempo certo. Mais que isso, ensinou o menino a pedir perdão. 
   Que homem surpreendente.
   Quantos  pais e mães, entretanto, aceitam a agressividade dos filhos e até a incitam, ensinando-os desde cedo a "não levar desaforo para casa" e a "ganhar vantagem em tudo"?
    O que está acontecendo? Parece-nos que o processo do pensamento está desaparecendo e, com ele, uma série de outras coisas muito importantes: a contenção da fúria em momentos de raiva; a atitude de protelar, de dialogar, de "deixar prá lá" para então decidir-se envolver em atitudes mais produtivas, como por exemplo, brincar, ler, conversar, dançar, e por que não? Estudar!
    Se podem ser extremamente trágicas para um adulto as consequências de um agir sem um prévio pensar, o que dizer então quando o sujeito de tal fatalidade é um adolescente? 
   Como pais e mães, o que podemos fazer em casa? É tão importante acompanhar o desenvolvimento das crianças desde cedo. Olhar para elas, para que elas se saibam existentes. Acolher sua força vital, seus ímpetos e, ao mesmo tempo, mostrar que para tudo há um jeito, que às vezes as coisas não são como queremos, que não podemos controlar tudo: ensinar a desenvolverem um pouco de calma em todas as situações, para que possam ter tempo para pensar e redirecionar sua energia quando as coisas não forem tão fáceis e agradáveis em suas vidas.
   É preciso também conversar e estar junto; colocar os limites necessários, mas também oferecer-lhes a oportunidade de conhecerem sua própria força e energia através do contato saudável em família.
   Alguns adolescentes, infelizmente, que não conheceram a autoridade de um pai e mãe amorosos, vão pedir, mais tarde, outros tipos de intervenção: força polícial ou decisão judicial. Na falta de um pai, um juíz para decidir suas vidas. 
   É importante estar atento e forte, mesmo quando tudo lá fora é mais urgente: as contas a pagar, as dificuldades profissionais e afetivas, as mudanças diárias a que todos estamos sujeitos.
   Todos somos responsáveis. Vamos ficar mais próximos de nossos adolescentes.

Rosana Luiza Destro Keppe
Psicóloga de crianças e adolescentes e adultos, com orientação psicanalítica winnicottiana.
Instituto Brasileiro de Transpsicanálise S/C Ltda.

    

notícia:
Professora ofendida pelo Facebook perdoa aluno que postou xingamento

Caso aconteceu em Londrina, no norte do Paraná; pai publicou retratação.
Aluno foi obrigado pelos pais a cancelar conta na rede social.

Do G1 PR com informações do Jornal Hoje
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A professora de Artes Rosana Franco, que foi ofendida por um aluno no Facebookpor conta de uma lição de casa aplicada por ela, perdoou o aluno que postou os xingamentos. No texto, ele dizia inclusive que queria queimar a professora. “Óbvio [que perdoo]. É um adolescente. Isso foi um ato impensado”, diz.
O garoto estuda em uma escola pública de Londrina, no norte do Paraná. As ofensas publicadas por ele, rapidamente correram a cidade. Rosana conta ainda que se assustou quando soube dos comentários feitos pelo aluno.
A direção da escola chamou o pai do aluno para contar o que havia acontecido. Mesmo após pedir desculpas pessoalmente à professora, ele publicou uma nota em nome do filho, em um jornal da região, pedindo desculpas pelo ato. No texto, ele reconhece que a ofendeu e espera que o erro dele não seja repetido por outros colegas.
O adolescente ainda foi obrigado pelos pais a cancelar a conta no Facebook. Ele também parou de frequentar a escola por alguns dias.

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