sábado, 24 de março de 2012

Sabedoria de Mahatma Gandhi (1869-1947)

   Se ao redor de ti tudo é fúria, caos e dissolução, e parece que o equilíbrio e a calma apenas fazem parte de um tempo distante, para um pouco e medita nas palavras de Mahatma Gandhi, este pacifista profundo, que soube aprender o desapego e o amor compassivo em sua própria vida,

Marc André da Rocha Keppe

    "O Brahmacharya é o controle dos sentidos, tanto em pensamento, como em palavras e atos.
   Compreendido assim, não pode ser atingido pelo esforço limitado. Numerosos são aqueles para os quais nunca passará de um ideal.
   É preciso traçar uma linha de separação muito clara entre a vida do brahmachari e a vida do que não é brahmachari. A semelhança entre os dois modos de de existência é apenas aparente. A diferença deve ser clara como o dia. Tanto um como outro se utilizam dos olhos, mas, ao passo que o brahmachari deles se serve para perceber a glória de Deus, o outro usa-os apenas para olhar o mundo de vaidade que o circunda. Tanto um como outro se utilizam do ouvido. Mas, enquanto um nada ouve senão o louvor de Deus, o outro regala os ouvidos com ninharias. Tanto um como outro fazem frequentes vigílias, tarde da noite. Mas um as consagra à prece, enquanto que o outro as gasta em alegrias tolas. Tanto um como outro nutrem o homem íntimo, mas um com o fim único de manter em bom estado o templo de Deus, o outro, para inchar-se e transformar o Vaso Sagrado em esgoto pestilento. Um e outro vivem como dois pólos. A distância que os separa só pode aumentar com o tempo, não diminuir.
   O aspirante ao brahmacharya terá consciência de suas deficiências, não deixará jamais de encurralar as paixões que rastejam ainda nos recantos mais obscuros de seu coração e lutará, sem tréguas, para delas se desembaraçar. Enquanto o pensamento não estiver completamente submisso ao controle da vontade, não poderá alcançar a plenitude da perfeição. Subjugar o pensamento significa subjugar o espírito - o que é ainda mais difícil do que curvar o vento.
   Mas o fato de Deus existir no interior do ser torna possível o controle do espírito. Não se image que é coisa impossível, pela sua dificuldade.
   Esse é o fim supremo.
   Compreende-se, assim, que o esforço exigido para atingi-lo deva ser, também ele, supremo.
   Compreende-se, assim, que o brahmacharya fica fora do alcance do simples esforço humano.   Exige muitas lutas, mas permitam-se salientar, quem tem o desejo de alcançar Deus nenhuma necessidade tem de desesperar, desde que sua fé em Deus esteja à altura da confiança que deposita em seus próprios esforços.
   Como se lê na Bhagavad-Gitta: os objetos, desviando-se da alma que deles se abstém, deixam a recordação do prazer, mas o próprio prazer sensual desaparece com a compreensão da realidade de Brahma (O muito Alto).
   Seu nome e sua graça são, pois, os últimos recursos do aspirante à libertação...
   Não há outro Deus senão a verdade.
   O único meio de atingir a verdade é o Ahimsã (a não-violência ou identificação da verdade, do amor e de Deus).
   Quem não tem o coração puro jamais atingira Deus.
   A purificação de si mesmo significa a purificação em todas as fases e em todos os domínios da vida.    Nada é mais contagioso que a purificação. A purificação de si conduz, necessariamente, à purificação de todos que se acham em redor de si. Para atingir à pureza perfeita, é preciso libertar de toda paixão o pensamento, a palavra e a ação, ultrapassar as correntes contrárias do ódio e do amor, da repulsão e do apego.
   O combate às paixões sutis parece-me empresa infinitamente mais dura que a conquista física do mundo.
   No desejo de atingir este fim supremo, apelo a todos que se unam a mim para orar ao Deus da verdade: 
  "Possa Ele conceder-nos, como suprema graça, o Ahimsã em pensamento, palavra e ação.""


 

Mahatma Gandhi (1869 - 1947)

Fonte: As mais belas orações de todos os tempos,
Muraro, Rose Marie; Cintra, Raimundo.
Editora Pensamento,2001

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