Tenho meu pai como um filósofo.
Desde pequeno, lembro-me de que ia aos seus cursos e, entre ouvir suas aulas e auxiliá-lo, fiquei com o essencial: tudo o que sei de filosofia, aprendi com ele; toda minha busca de transcendência e de verdade, também vem dele.
Penso que, não somente suas aulas, ensinamentos e palavras foram importantes em minha vida, como também seu exemplo.
Tenho orgulho desse homem: um sábio entre nós.
Lembro-me das conversas profundas que havia entre ele e minha mãe, Trude.
Desses momentos, surgiu esse livro tão especial "A Glorificação" como também uma psicanálise inovadora para a época, porque meu pai já trabalhava com três dimensões importantes: a filosofia, a ciência e a teologia, algo que, mais tarde, recebeu o nome de Trilogia Analítica, uma criativa escola de psicanálise, que ainda hoje, aos 85 anos de idade, meu pai trata como a menina de seus olhos, com força, inspiração e doçura.
Um dia, conversando com meu amigo Aurio Corrá, um músico altamente inspirado, ouvi isso: "Gosto de ler teu pai, André. Tem que ter um Keppe, um cara igual ao seu pai, para nos mover, nos fazer ver, nos acordar!.
Deixo um trecho especial de seu livro "A Glorificação", publicado em 1981 pela Proton, livro este que sempre teve um lugar não só em meu coração, como no coração e nas mentes de todos os que querem bem a meu pai, Norberto da Rocha Keppe.
Marc André da Rocha Keppe
Marc André da Rocha Keppe
"Dentre todas as coisas que existem, só o ser humano tem consciência de tal fato, podendo refletir sobre a própria vida. Este é um dado dialético que possuímos, dando-nos possibilidade de acrescentar-lhe alguma coisa ou de também recusá-la ou deturpá-la. Todos os outros seres simplesmente a vivem.
O valor da consciência é altamente dialético devido a sua condição dupla: uma do seu criador e outra do criado, formando uma ponte entre um e outro (existe a intuição que executa o mesmo papel); o conhecimento, entretanto, serve muito mais à megalomania (teomania) quando procura organizar todas as coisas, conforme a própria imaginação.
A conscientização é o fenômeno mais interessante que existe. Primeiramente, notamos que ela pode ser tomada em dois sentidos: a) no seu aspecto de censura, chamado ético, moral; b) quando ao conhecimento, ao contato com a realidade. Na língua alemã existem duas palavras sobre isso: gewissen e bewustsein.
Outro fato importante de se ver é que a conscientização é totalmente independente de nossa vontade, existindo por si mesma; quando a rejeitamos, parece que nos persegue, mas, na medida em que a aceitamos, torna-se agradável - porque nos indica se rejeitamos ou aceitamos a verdade.
Um terceiro fator consiste em uma manifestação dupla, isto é, ela não tem valor, por si mesma, mas existe como se fosse o reflexo de algo que espelhe - o que nos leva constantemente a confundi-la com o que nos mostra. Vamos dizer que ela seja a luz da verdade, em nosso interior. Portanto, é totalmente inofensiva, mesmo que a temamos. Aliás, temos medo não daquilo que ela nos mostra, mas do julgamento que colocamos nela. Deus não vê a nós da mesma maneira que o enxergamos; por exemplo, os filhos sempre têm uma idéia mais negativa sobre seus pais - enquanto que estes últimos, por mais doentes que sejam, sempre têm mais aceitação e afeto pelos seus filhos. Se damos um passo em direção ao Criador, Ele dá um milhão para nos abraçar. De maneira que é muito errôneo julgá-lo idêntico a nós, principalmente no que Ele faz - pois temos receio realmente é do que desejamos realizar em oposição à verdade, e colocamos isso fora, isto é, na consciência.
Consciência é sinônimo de liberdade - pois a censura é seu oposto, ou seja, o abafamento da realidade. Só somos livres ao aceitar a verdade, que se manifesta através da consciência - se a aceitamos, admitimos o que somos; se a recusamos, estamos agindo contra nós mesmos; portanto, impedindo de sermos o que somos."
Norberto da Rocha Keppe in "A Glorificação", páginas 79 e 80
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