sábado, 28 de abril de 2012

Atitude Lúdica e Expansão de Consciência: Dr. Walter Trinca


Atitude Lúdica e Expansão de Consciência

autoria: Prof. Dr. Walter Trinca - Psicanalista e Professor da Universidade de São Paulo.


 * Artigo originalmente publicado nos Anais do I Congresso Brasileiro de Ludodiagnóstico - outubro de 2009.

      A atitude lúdica diz respeito a uma disposição mental considerada livre por excelência, tendo por paradigma o brincar da criança, que frui em liberdade o prazer de se entregar a seus objetos de relacionamento, entretenimento e divertimento. Essa atitude passa por contato com o ser interior, do qual emana a mobilidade psíquica. Na psicanálise, o ser interior pode ser pensado como a realização no indivíduo do ser que ele é (TRINCA, 1999). Cada indivíduo conta com a realidade primária de ter um ser que responde por sua existência, estando na base das noções de si mesmo. Ele é um núcleo essencial e um foco originário que fundamenta a verdade interior e mais profunda do existir pessoal, pela qual esse indivíduo pode se afirmar “eu sou” em sua identidade, distinguindo-se, definindo-se e qualificando-se.    A característica básica pela qual podemos conceber o ser interior é sua não-sensorialidade, que se expressa como fonte de vida e de movimento. Tenho observado que o contato realizado em estado consciente com o ser interior corresponde ao que Winnicott (1975) chamou de viver criativo e liga-se primariamente à experiência de inteireza, que se expressa como “experiência de viver”. Para ele, esta experiência tem por referência o espaço potencial, que é preenchido com o brincar da criança, com a imaginação criativa, com a vida de sonhos, com a apercepção criativa, com a experiência cultural e com todo tipo de experiência satisfatória relacionada à consciência de estar vivo e de se encontrar pessoalmente presente em si mesmo e no mundo. É importante sublinhar que diferencio a noção de ser interior da noção de self, sendo aquele, basicamente, um foco de existência e este um órgão mental de consecução dessa existência, ou seja, um meio pelo qual ela se efetiva. Assim, o ser interior exerce influência em graus sobre o self, na dependência do contato que a pessoa estabelece consigo própria (TRINCA, 2007). Se somente o contato desvenda para a pessoa a natureza do ser que ela é, o estudo do distanciamento de contato constitui uma tarefa necessária e imprescindível. Quanto menor for a aproximação ao contato com o ser interior, maior será a impregnação do self por fatores estranhos àquele. Nesse caso, o self poderá ser impregnado tanto de sensorialidade quanto de fragilidade. Isso significa que quanto maior for o grau de distanciamento de contato, maior será a saturação do self por partículas, elementos e condições de um funcionamento desarmônico, em que a mobilidade psíquica diminui na razão inversa do aumento de sensorialidade ou de fragilidade. A mobilidade psíquica origina-se justamente de contato com o ser interior, tendo repercussões e influências diretas sobre o self. Emanada desse ser, ela pode ser descrita como uma disposição fluida e como um estado de abertura, de liberdade e de leveza, que também compreende uma atitude experiencial solta e espontânea, incluindo, na dependência do que estiver envolvido, a flexibilidade, a plasticidade, a elasticidade, a maleabilidade, a flutuação e o alargamento na correnteza das experiências. Tudo isso vem assegurar que na base do self iluminado por influência do ser interior está o espaço potencial, manifestando-se por mobilidade psíquica, cujas expressões mais evidentes são o gesto espontâneo e o brincar criativo. Para Winnicott, nessa área da experiência não há dissociação entre ser e brincar, uma vez que o interesse lúdico da criança consiste na busca de si mesma. Assim, em outros termos, da mobilidade psíquica decorre a atitude lúdica, sendo esta uma conseqüência direta de maior contato com o ser profundo. Nessa linha de considerações, pode-se pensar que o que impede ou anula a atitude lúdica é o distanciamento de contato com o ser interior. Quando o distanciamento se instala, a pessoa tem pela frente uma “escolha” entre duas alternativas: a sensorialidade ou a fragilidade do self. Se a “opção” for pela sensorialidade, há uma imensa gama de situações psíquicas que podem se manifestar, dependendo do grau de distanciamento de contato que vier a se instalar. Para cada grau de distanciamento, há determinado tipo de manifestação ligada à sensorialidade. Esta diz respeito a elementos que são saturados de concretitude ou que têm as características, propriedades ou qualidades da concretitude, os quais já preexistem ou vêm se introduzir no aparelho psíquico, determinando manifestações emocionais, congnitivas, imagéticas e outras, tanto de forma consciente quanto inconsciente. A sensorialidade, quando não for normal, poderá se constituir em obstáculo à atitude lúdica, porque determina modos, padrões e sistemas de funcionamento mental tendentes, em graus, à concretitude e ao inanimado. A fragilidade, por sua vez, quando se instala por conta do distanciamento de contato, determina a ocorrência de enfraquecimento e de esvaziamento do self. Para haver atitude lúdica, é necessário ultrapassar a esfera dos encobrimentos e da invisibilidade do ser interior à consciência, afastando-se as interferências ao contato com ele, causadoras de sensorialidade e de fragilidade. Isso quer dizer que se deve proporcionar a libertação das condições obstrutivas da mente, sejam elas consideradas patológicas ou não. Um dos aspectos consiste em lidar com a sensorialidade no nível da superação dos condicionamentos e das relações de tipo predominantemente concretista. Ou seja, uma desmaterialização dos vínculos, a fim de que se tornem realmente afetivos e profundos. O que nos deixa contentes e felizes é o contato significativo, relacionado ao sentido do que é vivo e encontrado nas raízes que nos ligam a nós próprios e ao Universo. Um contato que se assemelha à concentração em si mesmo e que se realiza tal como o brincar, que proporciona a experiência de estar só, mesmo na presença de alguém. Quanto maior for o contato, maior será o fluxo livre e o fluir criativo que emanam da mobilidade psíquica. A atitude lúdica corresponde, portanto, ao estado de deixar-se ser, equivalente à flutuação e ao fluxo da correnteza de um rio. É preciso que a vida siga seu curso e que a recebamos com um mínimo de interferência dos medos, desejos e outras formas de sentir passional. Para além de nossas disposições sensoriais, as coisas e situações revelam naturalmente suas fisionomias e seus sentidos, dizendo-nos o que têm a dizer. Em determinado grau da profundidade de contato, cessam as turbulências e os conflitos que são próprios da sensorialidade e da fragilidade, vindo a se apresentar um amplo espaço aberto na mente, despertado pelas condições não-sensoriais presentificadas no self. Emerge, portanto, um espaço interno vivo, em estado de espontaneidade, leveza, colorido, movimento, brilho, limpidez, eteridade, abrangência, entre outros aspectos. A atitude lúdica não é outra coisa senão a emergência desse espaço abertona mente pela presença alargada e profunda de nosso ser à consciência.
texto de autoria do Prof. Dr. Walter Trinca, psicanalista e professor da Universidade de São Paulo.
 Referências Bibliográficas
 TRINCA, W. – Psicanálise e expansão de consciência: Apontamentos para o novo milênio. São Paulo: Vetor, 1999.
 ———. O ser interior na psicanálise: Fundamentos, modelos e processos. São Paulo: Vetor, 2007.
 WINNICOTT, D. W. – O brincar e a realidade. Trad. J. O. Aguiar Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975.


Agenda de Maio - Cursos e Eventos da Transpsicanálise


Cronograma de Cursos - Eventos e Programas de Rádio no mês de Maio de 2012

5 de maio: sábado, das 12h30 às 18h30: Reposição da Primeira Aula do Curso de Terapia Breve Multidimensional - local: Barra Funda

6 de maio:  domingo: Programa na Rádio Mundial, 95,7: "O divã de André Keppe" - das 11h30 às 12h.

12 de maio: sábado, das 12h30 às 18h30:  Terceira Aula do Curso de Terapia Breve e Aconselhamento Multidimensional - local: Barra Funda

13 de maio: domingo:  Programa "O divã de André Keppe", Rádio Mundial, 95,7 - das 11h30 às 12h

26 de maio: sábado, das 13h às 18h: Curso de Filosofia da Espiritualidade sobre Mestre Eckhart - local: Barra Funda

27 de maio: domingo, Programa "O divã de André Keppe", Rádio MUndial, 95,7- das 11h30 às 12h.

31 de maio: quinta-feira, às 19h00: Dia Mundial sem Tabaco - Evento Gratuito no SESC Pinheiros


Centro de Cursos: Rua do Bosque, 1589 - Edifício Pallatino, conjunto 608 - sexto andar - Barra Funda - SP: 
Ponto de referência: próximo ao Metrô Barra Funda e à Avenida Marquês de São Vicente.

Entre em contato:

Contato eletrônico para inscrição em cursos: markeppe@usp.br

Contato telefônico para inscrição de cursos, agendamento de consultas e comunicação: (11)3872-7572 ou (11) 9865-7868 




segunda-feira, 23 de abril de 2012

28 de abril: Estudo de São João da Cruz: Visão Transdisciplinar e Prática Meditativa


           Segundo Walter Trinca *, psicanalista e professor titular da Universidade de São Paulo, autor do livro "O Ser interior na Psicanálise", da Editora Vetor, "quanto mais próximo se está da sensorialidade e da concretude, mais distante se está do contato com o ser interior; quanto mais engolfados pelas imposições da sensorialidade, pelos impulsos e desejos, mais somos tomados pelo primitivo"  O resultado de tudo isso? Sentir-se tomado por emoções perturbadoras e violentas que invadem e trazem angústia e possessividade, voracidade, destrutividade, ódio e inveja, "como se um bloco de granito impedisse o contato com o ser".
          Você já se sentiu assim?
          Atualmente, presenciamos um verdadeiro bombardeio de estimulação sensorial  tanto de ordem interna quanto externa e isso tem trazido malefícios para as pessoas, além de patologias psíquicas.  Muita bebida, muito sexo sem sentido, uso de drogas dos mais diversos tipos, alimentação excessiva; perda de vínculos, contatos interesseiros, apego excessivo ao poder e ao dinheiro,    entre outras questões.
          Tudo isso, pouco a pouco, vai distanciando a pessoa do contato mais profundo com o seu ser interior, com aquilo que ela realmente é. Vai trazendo mal-estar e imobilidade psíquica, fazendo com que a pessoa deixe de pensar com clareza, de ter um bom discernimento, uma vez que é  constantemente invadida por emoções perturbadoras.
         O que o distanciamento do contato com o ser interior tem a ver esse post? Por que estudar São João da Cruz? Por que entrar em contato com a filosofia, com os escritos profundos de grandes místicos?
Justamente para se retomar a clareza de pensamento e de sentimento. Retomar a mobilidade perdida nos excessos de sensorialidade. Voltar a ser e a existir com sentido, repensando os caminhos e as escolhas de vida.
          No dia 28/4/2012, sábado, das 13h às 18h estarei estudando com meus alunos as preciosidades deixadas por São João da Cruz, teólogo, místico, um grande mestre para os que amam o conhecimento e a prática meditativa realizada com discernimento.
          O estudo dos místicos é importante para todos os que entendem que não só o corpo e o psiquismo são importantes para o ser humano atual, mas também sua dimensão espiritual.
          São João da Cruz, assim como Santa Teresa de Ávila e Mestre Eckhart, são místicos, ou seja,  são aqueles que se dedicam ao estudo da alma humana em seu caminho espiritual.  O aprendizado com os grandes místicos nos ensina a discriminar o que é anseio psíquico, algo legítimo no ser humano, do que é anseio espiritual, uma vez que somos seres de transcendência.
         O curso interessa a todos os que buscam espiritualidade e prática meditativa no cotidiano e também é importante para médicos, psicólogos e psicanalistas que, em seu trabalho terapêutico, se vêem face a face com as buscas e as angústias de pessoas reais enfrentando problemas que, de uma forma ou de outra exigem  exigem uma escuta e um cuidado ético diferenciados, por sua relação com a experiência da transcendência e de busca do sagrado no cotidiano.
          Em  São João da Cruz, há toda uma busca de purificação, de saída da sensorialidade, de contemplação e de união com Deus pois, para ele, o sentido da vida é a transformação do homem em amor,o que é possível se há a união com o divino.
          Indicamos a leitura do livro "NOITE ESCURA", de São João da Cruz e também de suas poesias, para meditação cotidiana.
          A Editora Paulus publicou um livro interessante: "A noite escura lida hoje", de Jesus M. Ballester, para os que desejam conhecer o trabalho de São João da Cruz.  A leitura do livro mostra que, hoje em dia, a necessidade de retornar à oração pessoal se tornou mais urgente do que nunca pois o ser humano atual  está excessivamente superficializado, não encontrando a paz na sociedade altamente tecnológica e barulhenta que criou para si. Distraído de si mesmo, o homem moderno precisa se reencontrar no silêncio contemplativo, para voltar ao equilíbrio, ao pensamento criativo, ao amor e ao convívio fraterno.


"A única linguagem que Deus
ouve é o silêncio do amor...
O silêncio não é o amor
mas um preâmbulo para o amor."

Livros de São João da Cruz:
"A Noite Escura da Alma"
"O Amor não cansa, nem se cansa."
"Obras Completas de São João da Cruz"
"Poemas de São João da Cruz", entre outras obras que você encontra na Editora Paulus.

          O investimento para participação neste curso é de R$130,00.  O curso tem a duração de 5 horas, das 13h às 18h e dá direito a certificado de participação, além de dois intervalos com coffee-break e apostila com suporte didático. Caso o participante apresente um novo aluno, ganha 10% de desconto
Aguardo você neste novo encontro, ligue-me ou escreva-me para se inscrever, ok

Marc André da Rocha Keppe
markeppe@usp.br
(11) 3872-7572 com André ou 9865-7868 com Rosana

sexta-feira, 20 de abril de 2012

28 de abril: Oficina de estudos e meditação: Vamos estudar o místico São João da Cruz


      No dia 28/4/2012, sábado, das 13h às 18h, o Prof. Marc André da Rocha Keppe ministrará o curso Filosofia da Espiritualidade, apresentando o trabalho filosófico e místico de São João da Cruz, grande estudioso de Teologia e Filosofia e  profundo místico,  cuja vida vem sendo estudada,  por psicólogos e psicanalistas.

      O estudo dos místicos é importante para todos os interessados em meditação e também para os estudiosos das áreas de psicologia, psicanálise, filosofia e teologia, pois não só o corpo e o psiquismo são importantes para o ser humano atual, mas também sua dimensão espiritual.

      São João da Cruz, assim como Santa Teresa de Ávila e Mestre Eckhart, são místicos, ou seja,  são aqueles que se dedicam ao estudo da alma humana em seu caminho espiritual.

      O aprendizado com os grandes místicos nos ensina a discriminar o que é anseio psíquico: algo legítimo no ser humano; do que é anseio espiritual, uma vez que somos seres de transcendência. Tendo em vista esta dimensão, Wilfred Bion, importante psicanalista inglês, já citava São João da Cruz em seus trabalhos.

      O curso interessa a todos os que buscam espiritualidade e prática meditativa no cotidiano e também é importante para médicos, psicólogos e psicanalistas que, em seu trabalho terapêutico, se vêem face a face com as buscas e as angústias de pessoas reais enfrentando problemas que, de uma forma ou de outra exigem  exigem uma escuta e um cuidado ético diferenciados, por sua relação com a experiência da transcendência e de busca do sagrado no cotidiano.

      Em  São João da Cruz, há toda uma busca de purificação, de saída da sensorialidade, de contemplação e de união com Deus pois, para ele, o sentido da vida é a transformação do homem em amor,o que é possível se há a união com o divino.

      Indico a leitura do livro "Noite Escura", de São João da Cruz, Editora Paulus.

      Igualmente, informo que a mesma Editora Paulus publicou um livro interessante: "A noite escura lida hoje", de Jesus M. Ballester, para os que desejam conhecer o trabalho de São João da Cruz.  A leitura do livro mostra que, hoje em dia, a necessidade de retornar à oração pessoal se tornou mais urgente do que nunca pois o ser humano atual  está excessivamente superficializado, não encontrando a paz na sociedade altamente tecnológica e barulhenta que criou para si. Distraído de si mesmo, o homem moderno precisa se reencontrar no silêncio contemplativo, para voltar ao equilíbrio, ao pensamento criativo, ao amor e ao convívio fraterno.


"A única linguagem que Deus
ouve é o silêncio do amor...
O silêncio não é o amor
mas um preâmbulo para o amor."
Livros de São João da Cruz:
"A Noite Escura da Alma"
"O Amor não cansa, nem se cansa."
"Obras Completas de São João da Cruz"
"Poemas de São João da Cruz", 
Você que me lê e se interessa pelo tema, encontra esses livros na Editora Paulus.

O investimento para participação neste curso é de R$130,00.
O curso tem a duração de 5 horas, das 13h às 18h e dá direito a certificado de participação, além de dois intervalos com coffee-breaks  e apostila com suporte didático. Caso o participante apresente um novo aluno, ganha 10% de desconto

Aguardo você neste novo encontro,
Marc André da Rocha Keppe
markeppe@usp.br
(11) 3872-7572 (André) ou 9865-7868 (Rosana) 

Poesia de São João da Cruz: poeta, místico, teólogo, carmelita e doutor da igreja.

A Noite Escura
São João da Cruz (1542-1591)

O Cristo de São João da Cruz, de autoria do pintor Salvador Dali

Em uma noite escura
de amor em vivas ânsias inflamada
ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
já estando minha casa sossegada.

Na escuridão segura,
pela secreta escada, disfarçada,
ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
já estando minha casa sossegada.

Em noite tão ditosa,
e num segredo em que ninguém me via,
nem eu olhava nada,
sem outra luz, nem guia,
além do que no coração me ardia.

Essa luz me guiava
com mais clareza que a do meio-dia,
aonde me esperava
que eu bem conhecia,
em sítio onde ninguém aparecia.


Ó noite que me guiaste,
ó noite mais amável que a alvorada,
ó noite que justaste
amado com amada
amada já no amado transformada.

No meu peito florido
que inteiro só para ele se guardava,
quedou-se adormecido...
E eu, terna, o regalava
e com o leque dos cedros o refrescava.

Da ameia, a brisa amena,
quando eu os seus cabelos afagava,
com sua mão serena
em meu colo soprava
e meus sentidos todos transportava.

Esquecida, quedei-me,
o rosto reclinado sobre o amado,
cessou tudo e abandonei-me,
largando meu cuidado,
por entre as açucenas olvidado.

texto de autoria de São João da Cruz,
Obras Completas de São João da Cruz, Editora Paulus.

domingo, 15 de abril de 2012

Reposição da Primeira aula do Curso de Terapia Breve e Aconselhamento Multidimensional

Para todos os alunos novos e também para interessados em estudar o Modelo Integral de Ken Wilber e  outros estudos que dão suporte para a compreensão do ser humano, como as idéias de Michel Foucault, Viktor Frankl, Claire Graves, os estudiosos das teorias sistêmicas, das teorias psicanalíticas, etc.

Para você que deseja um curso de Terapia Breve e Acompanhamento Terapêutico dentro da visão biopsicosocioecoespiritual, uma boa notícia:

Reserve um espaço em sua agenda: 5/5/2012, à tarde.


Reposição da Primeira Aula do Curso de Terapia Breve / Aconselhamento Multidimensional para fins de Acompanhamento Terapêutico:

Temas para Estudo: Espiral do Desenvolvimento Humano - Nível Bege Arcaico-Instintivo
Modelo Integral de Ken Wilber aplicado à Terapia Breve entre outros temas.

Quando? Dia 5 de maio de 2012

Horário: 12h30 às 18h30

Investimento: R$ 50,00 (inscrição) e R$200,00 (mensalidade)

Local: Rua do Bosque, 1589 - cj 608 - sexto andar - Barra Funda - São Paulo - SP

Contato: markeppe@usp.br

Telefone: (11) 3872-7572 com André ou 9865-7868 com Rosana

Aguardamos sua presença com entusiasmo,

Marc André da Rocha Keppe


quarta-feira, 11 de abril de 2012

31 de Maio: Dia Mundial sem Tabaco / Palestra no SESC PINHEIROS


     No dia 31 de maio de 2012, às 19h30, estarei no SESC PINHEIROS para uma trabalho educativo sobre a dependência nicotínica.
     Sou pesquisador e meus estudos sobre o Tabaco foram iniciados no Mestrado da PUC-SP, na área de Psicossomática, sob a orientação da Dra. Mathilde Neder.  Atualmente, como doutorando na Universidade de São Paulo, no Instituto de Psicologia Clínica e sob a orientação do Dr. Esdras Vasconcellos, estou trabalhando na construção e validação do Teste Multifatorial de Dependência Nicotínica - TMDN, o qual tem por finalidade mapear e avaliar os graus de dependência da nicotina em níveis biopsiquicosocioecoespirituais.
   
     O curso tem a duração de 1 hora e meia, é gratuito e  interessante para os mais diversos públicos: Veja onde você pode se encaixar:

- para educadores, pais, mães e também para líderes comunitários que precisam de informações para trabalho com dependência nicotínica;
- para quem fuma e precisa de um maior grau de conscientização sobre o tabaco;
- para quem pensa em parar de fumar, mas ainda precisa de mais informações sobre a dependência do tabaco;
- para quem precisa parar de fumar, por ordem médica;
- para quem já parou, mas não suportou a crise de abstinência e voltou a fumar, para acalmar a ansiedade;
- para quem passou pela crise de abstinência, mas percebe que a dependência alcançou outros níveis além do biopsíquico, e quer dar um basta definitivo; mas não sabe como;
- para os que pararam de fumar e querem manter-se livres do tabaco;
- para aqueles que querem compartilhar informações e aprender mais sobre saúde e dependência nicotínica.

    Tem informação e educação para a saúde para todos os públicos,

    aguardo você lá,

Marc André da Rocha Keppe

Veja o mapa abaixo:
SESC PINHEIROS
Rua Paes Leme, 195. Pinheiros - São Paulo - telefone: 11 3095-9400 


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Como Deus emerge no processo evolutivo? Leonardo Boff

"A nova cosmologia, derivada das ciências do universo, da Terra e da vida, vem formulada no arco da evolução ampliada. Esta evolução não é linear. Conhece paradas, recuos, avanços, destruições em massa e novas retomadas. Mas, olhando-se para trás, o processo mostra uma direção: para frente e para cima.
Somos conscientes de que renomados cientistas se recusam a aceitar uma direcionalidade do universo. Ele seria simplesmente sem sentido. Outros, cito apenas um, como o conhecido físico da Grã-Bretanha Freeman Dyson que afirma:”Quanto mais examino o universo e estudo os detalhes de sua arquitetura, tanto mais evidências encontro de que ele, de alguma maneira, devia ter sabido que estávamos a caminho”.
De fato, olhando retrospectivamente o processso evolucionário que já possui 13,7 bilhõs de anos, não podemos negar que houve uma escalada ascendente: a energia virou matéria, a matéria se carregou de informações, o caos destrutivo se fez generativo, o simples se complexificou, e de um ser complexo surgiu a vida e da vida a consciência. Há um propósito que não pode ser negado. Efetivamente, se as coisas em seus mínimos detalhes, não tivessem ocorrido, como ocorreram, nós humanos não estaríamos aqui para falar destas coisas.
Escreveu com razão o conhecido matemático e físico Stephen Hawking em seu livro Uma nova história do tempo (2005):”tudo no universo precisou de um ajuste muito fino para possibilitar o desenvolvimento da vida; por exemplo, se a carga elétrica do elétron tivesse sido apenas ligeiramente diferente, teria destruído o equilíbrio da força eletromagnética e gravitacional nas estrelas e, ou elas teriam sido incapazes de queimar o hidrogênio e o hélio, ou então não teriam explodido. De uma maneira ou de outra, a vida não poderia existir”.
Como emerge Deus no processo cosmogênico? A ideia de Deus surge quando colocamos a questão: o que havia antes do big-bang? Quem deu o impulso inicial? O nada? Mas do nada nunca vem nada. Se apesar disso apareceram seres é sinal de que Alguém ou Algo os chamou à existência e os sustenta no ser.
O que podemos sensatamente dizer, é: antes do big bang existia o Incognscível e vigorava o Mistério. Sobre o Mistério e o Incognoscível, por definição, não se pode dizer literalmente nada. Por sua natureza, eles são antes das palavras, das energia,da matéria, do espaço e do tempo.
Ora, o Mistério e o Incognoscível são precisamente os nomes que as religiões e também o Cristianismo usam para significar aquilo que chamamos Deus. Diante dele mais vale o silêncio que a palavra. Não obstante, Ele pode ser percebido pela razão reverente e sentido pelo coração como uma Presença que enche o universo e faz surgir em nós o sentimento de grandeza, de majestade, de respeito e de veneração.
Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência. Naturalmente nos surgem as perguntas: Quem fez tudo isso? Quem se esconde atrás da Via-Lactea?
Como escreveu o grande rabino, teólogo e místico, Abraham Heschel, de Nova York: “Em nossos escritórios refrigerados ou entre quatro paredes brancas de uma sala de aula podemos dizer qualquer coisa e duvidar de tudo. Mas inseridos na complexidade da natureza e imbuidos de sua beleza, não podemos calar. É impossível desprezar o irromper da aurora, ficar indiferentes diante do desabrochar de uma flor ou não quedar-se pasmados ao contemplar uma criança recém-nascida”. Quase que espontaneamente dizemos: foi Deus quem colocou tudo em marcha. É Ele a Fonte originária e o Abismo alimentador de tudo.
Outra questão importante é esta: que Deus quer expressar com a criação? Responder a isso não é preocupação apenas da consciência religiosa, mas da própria ciência. Sirva de ilustração o já citada Stephen Hawking, em seu conhecido livro Breve história do tempo (1992): “Se encontrarmos a resposta de por que nós e o universo existimos, teremos o triunfo definitivo da razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus”(p. 238). Até hoje os cientistas e os sábios estão ainda buscando o desígnio escondido de Deus.
A partir de uma perspectiva religiosa, suscintamente, podemos dizer: O sentido do universo e de nossa própria existência consciente parece residir no fato de podermos ser o espelho no qual Deus mesmo se vê a si mesmo. Cria o universo como desbordamento de sua plenitude de ser, de bondade e de inteligência. Cria para fazer outros participarem de sua suberabundância.
Cria o ser humano com consciência para que ele possa ouvir as mensagens que o universo nos quer comunicar, para que possa captar as histórias dos seres da criação, dos céus, dos mares, das florestas, dos animais e da próprio processo humano e religar tudo à Fonte originária de onde procedem.
O universo está ainda nascendo. A tendência é acabar de nascer e mostrar as suas potencialidades escondidas. Por isso, a expansão significa também revelação. Quando tudo tiver se realizado, então se dará a completa revelação do desígnio do Criador".

Texto de autoria de Leonardo Boff - 7 de abril de 2012 - blog: leonardoboffwordpress.com

domingo, 8 de abril de 2012

Cursos: 14 de abril: Terapia Breve Multidimensional /Aconselhamento Multidimensional


Neste próximo sábado, 14 de abril de 2012, das 12h às 18h, na Unidade da Transpsicanálise na Rua do Bosque, 1589, teremos a segunda aula do Curso Terapia Breve Multidimensional no modelo integral de Ken Wilber.
Aguardamos todos os alunos que estiveram conosco no primeiro encontro em março/2012 e informamos que quem não se inscreveu pode entrar em contato conosco para participar do curso a partir deste segundo encontro.
Caso seja o seu caso, ligue para a Transpsicanálise: (11) 3872-7572 ou (11) 9865-7868, pois é necessário inscrição prévia para participar do curso.
O curso tem 12 meses, a mensalidade é de R$200,00 e a taxa de inscrição é de R$50,00. Há desconto para aposentados e para alunos que fazem outros cursos na Transpsicanálise, por isso,  entre em contato para obter mais informações ou acesse neste site, no mês de março, o post sobre Curso de Terapia Multidimensional / Aconselhamento Multidimensional.
O curso é transdisciplinar e nele o aluno terá contato com os estudos integrais de Ken Wilber; a espiral do desenvolvimento humano de Claire Graves, os estudos filosóficos de Michel Foucault sobre a ética e o cuidado; as teorias sistêmicas e psicanalíticas que dão suporte à escuta, interpretação e acompanhamento em terapia breve.
O curso de Terapia Breve Multidimensional é dirigido a profissionais de nível superior que já tenham percurso na área “psi”. Já o curso de Aconselhamento Multidimensional é indicado para profissionais de nível médio, interessados em acompanhamento terapêutico.
O curso é ministrado por Marc André da Rocha Keppe, psicólogo, psicanalista, Mestre em Psicossomática – PUC-SP e doutorando em Psicologia Social – Universidade de São Paulo. Seu curricullum lattes está na plataforma lattes: www.cnpq.com.br.
Se desejar mais informações, escreva-nos: markeppe@usp.br
um abraço forte de Páscoa para todos,
Marc André da Rocha Keppe

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pessach: Entre a liberdade e a escravidão: reflexão de Bernardo Sorj


Profundos os textos sobre o Pessach, de Bernard Sorj, sociólogo. 
Compartilhamos estas mensagens, desejando a todos uma Páscoa libertadora, profunda em insights, com a reflexão sobre todos os tipos de escravidão ao qual estamos sujeitos atualmente e, em relação aos quais, precisamos agir, pois viver é estar em constante travessia.

Páscoa integral a todos,

Marc André da Rocha Keppe e Rosana Luíza Destro Keppe
Instituto Brasileiro de Transpsicanálise S/C Ltda.

                                                 Pessach 5772/ 2012  
                                               Entre a liberdade e a escravidão


Indicamos para leitura:
estudosjudaicos.blogspot.com
blog: amaivos@uol.com.br

Texto de Bernardo Sorj, sociólogo
           No deserto, toda a comunidade de Israel reclamou a Moisés e Arão. Disseram-lhes os israelitas: "Quem dera a mão de Deus não nos tivesse matado no Egito! Lá nos sentávamos ao redor das panelas de carne e comíamos pão à vontade, mas você nos trouxeram a este deserto para fazer morrer de fome toda esta multidão! " (Êxodo 16)

       Porque viver é uma luta constante entre liberdade e escravidão, entre a liberdade que nos deixa inseguros, e o desejo de segurança que limita nossa liberdade. Pessach nos lembra de que a vida é uma travessia:

Entre o medo ao desconhecido que pode nos mudar.
E a curiosidade e a coragem de abrirmos para novos pensamentos e experiências.
Entre as expectativas dos outros,
E agir de acordo com o que consideramos certo e errado.
Entre a insegurança que não nos permitem reconhecer nossos limitações,
E a ironia que nos permite rir de nossa forma de ser.
Entre a fixação no trauma,
E sua superação.
Entre as vitrines externas,
E a vida interior.
Entre se queixar,
E agir.
Entre o dogmatismo.
E a abertura à opinião dos outros.
Entre ter
E ser.
Entre contemplar
E possuir.
Entre querer tudo
E estar satisfeito com o que se tem.
Entre o supérfluo
E o essencial.
Entre impor
E dialogar.
Entre falar
E ouvir.
Entre um passado que nos oprime
E um passado que nos ensina.
Em Pessach aprendemos que o opressor tem delírios de onipotência e, para impor sua vontade, quer dominar e controlar os outros para que se ajustem ao seu desejo; mas, como seres humanos, somos finitos e mortais.
E porque somos finitos e mortais,
não controlamos o mundo.
E porque somos finitos e mortais.
vivemos na incerteza.
E porque somos finitos e mortais.
temos medos, inseguranças e carências afetivas.
E porque somos finitos e mortais.
o outro é uma fonte de aprendizagem, apoio e alteridade.
E, como judeus, devemos sempre lembrar que Pessach nos ensina:
Que fomos perseguidos e nunca devemos perseguir.
Que fomos humilhados e não devemos humilhar.
 Que fomos estigmatizados e não devemos estigmatizar.
 Que fomos oprimidos e não devemos oprimir.
 Que fomos confinados em guetos e ninguém deve viver em favelas.
 Que toda escravidão termina em luta pela liberdade.
Por isso em Pessach festejamos nossa disposição a sermos livres sem ocultar nem negar nossos medos, inseguranças e carências, e afirmamos nossa vontade de amar e aprender, e os valores da liberdade e da justiça.
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.

Bernardo Sorj
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Pessach 5771/2011



Cada ano festejamos Pessach porque a liberdade, para os indivíduos e para a sociedade, é sempre uma travessia, nunca um ponto de chegada, e ela só é possível porque se alimenta do exemplo e das lutas das gerações passadas.

Pessach é um momento de reflexão sobre o que nos faz escravos, permitindo que a opressão se instale no nosso interior e nas nossas relações. Por isto festejar a liberdade exige refletir sobre a servidão, sobre o Faraó que cada um leva dentro de si.


• O Faraó que só percebe a si mesmo.
• O Faraó que deseja que os outros o obedeçam.
• O Faraó que não aceita que cada pessoa é diferente.
• O Faraó que julga antes de compreender.
• O Faraó que divide tudo em certo e errado.
• O Faraó que fala para não ouvir.
• O Faraó que teme idéias diferentes das suas.
• O Faraó que ri dos outros sem ser capaz de rir de si mesmo.
• O Faraó que confunde solidez com rigidez.
• O Faraó que critica e não aceita ser criticado


Pessach nos lembra de que o poder material, econômico ou político, não deve ser confundido com o poder de ser internamente livre. Porque a liberdade não se compra nem se impõe, só pode ser construída por cada um e na convivência, inspirando-se em exemplos, mas seguindo caminhos que são sempre singulares. Por isso:


• Só a liberdade nos leva a valorizar perguntas que questionam nossas certezas e a duvidar de respostas que confirmam nossas crenças.
• Só a liberdade nos permite amar nossos seres queridos sem querer transforma-los em espelhos de nós mesmos.
• Só a liberdade nos permite levar a vida a sério, sem nunca deixar de brincar.
• Só a liberdade nos permite aprender coisas diferentes que questionam nossas crenças.
• Só a liberdade nos permite entender nossas mudanças e das pessoas que nos circundam.
• Só a liberdade nos ensina que a vida nunca se reduz ou pode ser contida em leis e conceitos aparentemente rigorosos.
• Só a liberdade nos dá o sentido da ironia e do humor.
• Só a liberdade nos permite entender que toda fronteira usada para classificar os outros é precária e que nunca deve ser transformada numa forma de desclassificar.
• Só a liberdade permite que a tradição seja uma fonte de sabedoria e não uma camisa de força.


A afirmação da liberdade é um caminho que exige rompimentos e distanciamentos de um mundo conhecido e aparentemente seguro. Mas nada pode eliminar a angustia nem as incertezas. Ou nos refugiamos na repetição mecânica e em crenças cegas que sufocam a curiosidade, fogem do desconhecido e temem o que está fora de nosso controle, ou as transformamos numa energia que nos impele a descobrimentos e que nos faz crescer, transformando a vida num processo de aprendizagem permanente.
Só podemos lutar contra a servidão se enfrentamos o opressor e o oprimido que cada um de nos carrega. Porque a escravidão individual é produzida por traumas que nos deixam inseguros e por medos que nos paralisam e nos transformam em pessoas rígidas e oprimidas.


• Um oprimido que se esconde dele mesmo procurando ser igual ao resto.
• Um oprimido que transforma, por insegurança, o amor em possessão.
• Um oprimido que odeia o que não controla e o que não se ajusta a sua vontade.
• Um oprimido que foge da mudança, no lugar de se enriquecer com ela.
• Um oprimido que teme o futuro e a passagem do tempo no lugar de vivê-lo intensamente.
• Um oprimido que inferioriza os outros para se sentir superior.
• Um oprimido que se refugia em grupos e comunidades em torno das quais cria muralhas que desumanizam os que se encontram fora.


A liberdade pessoal só pode ser plenamente realizada em comunidades que permitem a livre expressão de cada indivíduo. Devemos, portanto, lutar contra toda forma de opressão política e social. Porque o autoritarismo se alimenta do ódio, estigmatiza quem discorda, transforma o opositor em inimigo e os indivíduos em membros de manadas. Lembrando sempre que não há comunidade onde não existe justiça social, pois a pobreza e a opressão geram sofrimento, exclusão e desespero.


Porque aspiramos a ser livres, mas nunca nos desprenderemos totalmente dos desejos de opressão, lembramos as grandezas, nem por isso destituídas por vezes de fraquezas, de nossos antepassados. A todos eles, e a todas as pessoas justas de todos os povos e culturas, que fizeram possível que hoje possamos brindar á vida e a liberdade:

[Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuyanu lazman haze]

Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.
Autor: Bernardo Sorj
blog: amaivos@uol.com.br


Câmera de Gás de Buchenwald: nosso silêncio e oração aos que se foram.

         Coincidentemente, nesta semana, os cristãos comemoram a Páscoa e os judeus celebram o Pessach. 
         Ambas as celebrações têm em comum o simbolismo da passagem, da travessia.
         Pessach significa “pular” e se refere à consciência e controle de Deus sobre a existência. 
         O próprio nome da festa transmite um conceito importante no pensamento judaico. A palavra pessach 
significa “pular". Esta palavra é proveniente da última praga, na qual Deus atacou o primogênito egípcio de cada casa, mas “pulou” as casas dos judeus. Este ato de “pular” era uma demonstração clara da Providência Divina, da Sua onisciência e do Seu poder sobre a própria existência, segundo lemos nos ensinamentos  sobre o Pessach no Calendário Judaico.http://www.morashasyllabus.com/Portuguese/class/Pesach%20II.pdf.
        Refletindo sobre esse fato, que envolve libertação, lembramo-nos do destino de tantos outros judeus em Auschewitz quando não tiveram o direito à liberdade e morreram paralisados pelo jugo opressor de um sistema paranóico: o nazismo.
        Contrariamente a seus antepassados, esses judeus não tiveram a escolha de fazer a travessia, de pular essa parte da história: ofereceram-se vivos para que pudessemos aprender o valor da liberdade, do coexistir sem fronteiras.
         Um psiquiatra judeu que sobreviveu a todos os infortúnios dentro do campo de concentração, através de sua atitude resiliente, deixou-nos o livro "Um psicólogo no campo de concentração". Neste livro, como também em outros de sua autoria, aprendemos a extrair o significado da vida e também a ressignificá-la, não importa a dor pela qual se passou. Seu nome é Viktor Emil Frankl, criador da Logoterapia.
        Deixamos aqui uma frase desse grande homem, professor na Universidade de Viena e profundamente convicto de que nada atinge o ser humano na sua dimensão noética ou espiritual:



Viktor Emil Frankl, neuropsiquiatra austríaco, de origem judaica


"Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens".
que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão.
Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser
tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher sua
atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho."
(Viktor Frankl)

      A todos esses seres humanos, homens, mulheres e crianças, dedicamos um momento de silêncio e oração, desejando que todos os seres humanos tenham acesso à possibilidade de um viver criativo e digno, com direito pleno à liberdade, à expressão, ao ser e ao existir e, principalmente, à escolha do seu próprio caminho.


Páscoa integral!
Marc André da Rocha Keppe e Rosana Luiza Destro Keppe
Transpsicanálise - (11) 3872-7572

            

Oração na Câmara de Gás de Buchenwald
Schwartz-Bart - O Último Justo

      "Quando as camadas de gás cobriram tudo, houve um silêncio na sala, um silêncio que durou talvez um minuto, entrecortado apenas pela tosse e os soluços dos que já estavam moribundos e impossibilitados de oferecer uma oração. E, primeiramente um riacho, depois uma cascata e, logo, uma irresistível e majestática torrente: o poema que, através do fumo das fogueiras e sobre todos os martírios da história dos judeus, o velho poema de amor que eles traçaram em letras de sangue sobre a superfície da terra fez-se ouvir naquela câmara de gás, envolvendo-a, vencendo aquela horrível e sombria tosse: `SHEMA YISRAEL´... `Escuta, ó Israel, o Senhor é o nosso Deus, o Senhor é Um. Ó Senhor, por vossa graça alimentais os vivos e por vossa grande piedade ressuscitais os mortos, defendeis os fracos, curais os doentes, quebrais as correntes dos escravos. E, fielmente, sempre cumpristes as vossas promessas para com aqueles que dormem sobre a poeira. Quem é como vós, ó misericordioso Pai, e quem poderia jamais ser como vós...?´
      "As vozes morreram uma por uma em meio ao poema ainda por terminar. As crianças moribundas cravaram as unhas nas pernas de Ernie e o abraço de Golda tornou-se mais fraco, os seus beijos menos intensos, e, ainda presa ao pescoço do seu amado, soltou um último suspiro: ´Então nunca mais te verei? Nunca mais...?´
      "...Assim esta história não terminará. Pois a fumaça que se ergue dos crematórios obedece, como qualquer outra, as leis físicas: as partículas juntam-se e dispersam-se segundo o vento que as faz girar. A peregrinação seria olhar com tristeza para um tempestuoso céu, uma vez por outra.
      "... e louvado. Auschewitz: Seja. Maidanek: O Senhor. Treblinka: E Louvado. Buchenwld: Seja. Mauthausen: O Senhor. Belzec: E Louvado. Sobibor: Seja. Chelmno: O Senhor. Ponary: E louvado. Theresienstadt: Seja. Varsóvia: O Senhor. Vilna: E louvado. Skarsysko: Seja. Bergen-Belsen: O Senhor. Janov: E louvado. Dora: Seja. Neuengamme: O Senhor. Pustkow: E Louvado..."´.

terça-feira, 3 de abril de 2012

28 de abril: Prática Meditativa e Curso sobre São João da Cruz


No dia 28/4/2012, sábado, das 13h às 18h, o Prof. Marc André da Rocha Keppe ministrará o curso Filosofia da Espiritualidade, apresentando o trabalho filosófico e místico de São João da Cruz, grande estudioso de Teologia e Filosofia e  profundo místico,  cuja vida vem sendo estudada,  por psicólogos e psicanalistas.
O estudo dos místicos é importante para todos os interessados em meditação e também para os estudiosos das áreas de psicologia, psicanálise, filosofia e teologia, pois não só o corpo e o psiquismo são importantes para o ser humano atual, mas também sua dimensão espiritual.
São João da Cruz, assim como Santa Teresa de Ávila e Mestre Eckhart, são místicos, ou seja,  são aqueles que se dedicam ao estudo da alma humana em seu caminho espiritual.  O aprendizado com os grandes místicos nos ensina a discriminar o que é anseio psíquico, algo legítimo no ser humano, do que é anseio espiritual, uma vez que somos seres de transcendência. Tendo em vista esta dimensão, Wilfred Bion, importante psicanalista inglês, já citava São João da Cruz em seus trabalhos.
O curso interessa a todos os que buscam espiritualidade e prática meditativa no cotidiano e também é importante para médicos, psicólogos e psicanalistas que, em seu trabalho terapêutico, se vêem face a face com as buscas e as angústias de pessoas reais enfrentando problemas que, de uma forma ou de outra exigem  exigem uma escuta e um cuidado ético diferenciados, por sua relação com a experiência da transcendência e de busca do sagrado no cotidiano.
Em  São João da Cruz, há toda uma busca de purificação, de saída da sensorialidade, de contemplação e de união com Deus pois, para ele, o sentido da vida é a transformação do homem em amor,o que é possível se há a união com o divino.
A Editora Paulus publicou um livro interessante: "A noite escura lida hoje", de Jesus M. Ballester, para os que desejam conhecer o trabalho de São João da Cruz.  A leitura do livro mostra que, hoje em dia, a necessidade de retornar à oração pessoal se tornou mais urgente do que nunca pois o ser humano atual  está excessivamente superficializado, não encontrando a paz na sociedade altamente tecnológica e barulhenta que criou para si. Distraído de si mesmo, o homem moderno precisa se reencontrar no silêncio contemplativo, para voltar ao equilíbrio, ao pensamento criativo, ao amor e ao convívio fraterno.


"A única linguagem que Deus
ouve é o silêncio do amor...
O silêncio não é o amor
mas um preâmbulo para o amor."
Livros de São João da Cruz:
"A Noite Escura da Alma"
"O Amor não cansa, nem se cansa."
"Obras Completas de São João da Cruz"
"Poemas de São João da Cruz", entre outras obras que você encontra na Editora Paulus.
O investimento para participação neste curso é de R$130,00.  O curso tem a duração de 5 horas, das 13h às 18h e dá direito a certificado de participação, além de dois intervalos com coffee-break e apostila com suporte didático. Caso o participante apresente um novo aluno, ganha 10% de desconto
Aguardo você neste novo encontro,
Marc André da Rocha Keppe
markeppe@usp.br
(11) 3872-7572

A chave Mágica de Peter Wust

Testamento a seus Discípulos
Peter Wust (1884-1940)



Se quereis perguntar-me agora, 
antes que me vá
e que me vá definitivamente,
se não conheço uma chave mágica
que possa abrir a última porta da sabedoria da vida,
dir-vos-ei:
sim, conheço-a.
Esta chave mágica não é, precisamente,
a reflexão,
como talvez esperásseis ouvir de um filósofo.
Mas é a oração.
A oração considerada como a última entrega de si mesmo.
A oração que nos faz voltar à infância,
que acalma,
que nos torna objetivos.
Para mim, um homem tanto mais cresce
no marco da humanidade
- não no humanismo -
quanto mais ele for capaz de orar,
refiro-me ao autêntico orar

domingo, 1 de abril de 2012

A porta de entrada para o castelo interior

        


        Ontem proferi uma aula sobre Sta. Teresa D´Ávila, que nos ensina a meditar e orar em nossas moradas de nosso castelo interior. Entendo que esta experiência de imersão foi muito interessante para todos os presentes, inclusive para mim, porque enquanto eu falava, adentrava também nestes níveis mais profundos de meditação. 
        Podemos dizer que Tereza não é interessante apenas para aqueles que procedem da tradição católica, mas para pessoas de todas as tradições religiosas, principalmente para aquelas que buscam o desenvolvimento da espiritualidade. 
        A porta de entrada para este universo da espiritualidade estaria, segundo Teresa, na oração, mas não na reza ou ladainha, feita apenas com repetições, e sem sentimento. A oração espontânea e com sentimento é que possibilitaria entrarmos em nosso castelo interior e, no centro deste castelo, encontraríamos uma sala luminosa pela presença de Deus. 
        Fica aqui a recomendação de meditarmos e orarmos todos os dias, para adentrarmos neste nível profundo de espiritualidade.

Uma semana integral para todos

Marc André da Rocha Keppe